terça-feira, 14 de junho de 2011

Ensaio sobre a cegueira, José de Saramago


Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness)                                     
 by Adriano Senkevics on 16 / maio / 2010

Adaptação bastante fiel da obra-prima de José Saramago, o filme faz um bom trabalho, com uma ótima fotografia e edição, mas não chega a empolgar.
 
ዓ estreia muito aguardada da adaptação do best-seller do autor português José Saramago dividiu a crítica. Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, dentre os comentários sobre Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, Brasil/Japão/Canadá, 2008) também estavam inclusos os clichês de que “o livro é sempre melhor”. Sobre alguns aspectos desta obra, a frase até vale, mas é inegável que a adaptação para o cinema tem seus méritos. A história mostra uma epidemia inexplicável de cegueira atingindo, a princípio, a população de uma grande metrópole a partir de um homem oriental (Yusuke Iseya), e estimulando que o governo isole o grupo inicial dessas vítimas num hospício abandonado, mantendo-os em quarentena. Dentre eles, está o médico (Mark Ruffallo) que teve contato com o primeiro cego, uma prostituta (Alice Braga), um ladrão de carros (Don McKellar, também autor do roteiro) e outros personagens.

Curiosamente, a mulher do médico (Julianne Moore) é a única que não perde a visão e, justamente por isso, acaba servindo como um guia para os outros cegos, sendo a protagonista da história. Isolados, os cegos passam a comportar segundo seus instintos primários, gerando o caos, a desordem e a degradação. Para piorar, um deles (Gael García Bernal) banca o líder, fazendo com que a situação fique ainda pior. Muitas vezes Saramago recusou que sua obra-prima fosse adaptada para o cinema, talvez porque quisesse evitar o sensacionalismo que rodeia este tipo de filme, tendendo a tons apocalípticos. No caso de Meirelles, ele aceitou. Fez um bom negócio: Meirelles dirigiu uma adaptação bastante fiel à obra original, o que resultou num bom trabalho, porém, comportado demais. O elenco foi bem escalado, mas sua atuação foi apenas correta, não surpreende. O filme atropela um pouco o ritmo no primeiro ato, o que pode confundir quem não leu a obra original. Embora a história seja de natureza bastante envolvente, essa adaptação cumpre, mas não chega a empolgar.

Com exceção de algumas cenas muito boas: o estupro coletivo, seguido da morte de uma mulher, é certamente o ponto alto do filme; outra de destaque é o conflito que a personagem de Julianne Moore tem com outros cegos ao descobrir um porão cheio de comida em um supermercado. Dá vontade de pular na cena e ajudá-la.
.A obra de Saramago possui uma literatura muito forte, contundente. O filme é menos pesado, no sentido de deixar menos explícita toda a violência do livro. Mas, é claro, algumas coisas não precisam ser totalmente mostradas, além do mais, o impacto visual que elas teriam poderia roubar todo o sentido da cena, o que pode ter acontecido comAnticristo (2009), de Lars Von Trier.
Vale pontos a belíssima fotografia de César Charlone a qual, aliada à edição deDaniel Rezende, faz um trabalho excepcional. Os tons brancos, leitosos, desfocados, remetem ao estado das vítimas da cegueira que, diferentemente da cegueira tradicional em que se enxerga preto, vê-se tudo branco. A fita consegue até nos cegar com tanto branco que é lançado. A trilha sonora, assinada por Marco Antônio Guimarães, é adequada no sentido de ser minimalista e dar um tom de insanidade, mas não é muito agradável de ser ouvida.
Já presente no livro, a não identificação de tempo, espaço e sequer dos personagens, é mantida, dando uma ideia universal e atemporal ao sentido que a obra quer transmitir: a metáfora da cegueira da humanidade diante dos seus problemas. Na cegueira, todo mundo é igual, todos são selvagens (há quem criticou o filme por fazer apologia contra os cegos, o que é no mínimo uma ignorância). É uma crônica que dá subsídios para se refletir. A violência, decorrência natural do estado em que os personagens são submetidos, dá uma chacoalhada na plateia e chama a atenção para tudo isso. Pode não ser uma obra de destaque na cinematografia de Meirelles (não tente compará-la com Cidade de Deus), mas não deixa de ser instigante. Seja em papel, seja nas telonas, uma obra de Saramago é sempre matéria para discussões.
Direção: Fernando Meirelles                      País: Brasil/Japão/Canadá                         Ano: 2008
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Yusuke Iseya, Yoshino Kimura, Mitchell Nye, Don McKellar, Sandra Oh                      
Produção: Andrea Barata Ribeiro, Niv Fichman, Sonoko Sakai
Roteiro: Don McKellar, baseado na obra de José Saramago         Fotografia: César Charlone                      
Trilha Sonora: Marco Antônio Guimarães
 
Contexto (início do filme):                       by Bel
         Um dia normal na cidade. Os carros parados numa esquinas esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas e à gente que bate nos vidros, percebe-se o movimento da boca do motorista, formando duas palavras: "Estou cego".

O homem dentro do carro esbraceja, grita, mas não consegue escapar da cegueira branca que inunda seus olhos. É uma cegueira diferente, luminosa, como se ele tivesse mergulhado de olhos abertos num "mar de leite". Apesar disso, seus olhos têm uma aparência normal.

As pessoas o ajudam a sair do carro e ele, entre lágrimas, implora que alguém o leve para casa. Um homem oferece-se para ir dirigindo seu carro. Como não havia local disponível para estacionar na rua da cada do cego, ele desceu do carro e ficou esperando o homem, que estacionou numa rua transversal. Subiram até o apartamento, que ficava no 3º andar. O homem quis aguardar até que a mulher do cego chegasse, mas este, com medo daquele estranho, preferiu recusar a oferta.

Quando a mulher chega e o marido lhe conta que está cego, ela custa a acreditar, depois desespera-se e liga para o primeiro oftalmologista que encontra na lista telefônica, marcando uma consulta urgente.

O cego aguarda em frente ao prédio enquanto sua mulher vai buscar o carro na rua em que ele disse estar estacionado, com sua própria chave, pois o homem que levou-o para casa não entregou-lhe a chave. Ela volta com um táxi, pois aquela "boa alma" roubou-lhes o carro.

Na sala de espera do consultório estavam um velho com uma venda preta, um rapazinho estrábico e sua mãe, uma rapariga de óculos escuros e mais duas pessoas. Passaram o cego na frente dos outros pacientes e, depois de examiná-lo minuciosamente por duas vezes, o médico conclui que não há nada de errado com seus olhos; estavam aparentemente perfeitos. Pediu alguns exames mais detalhados e, quando saíram, ficou pensativo, nunca vira coisa parecida em toda sua vida.

O sentimento de culpa foi tomando conta do ladrão do carro. Quando se ofereceu para ajudar o cego, ainda não tinha o roubo em mente; a idéia só lhe apareceu quando estava em direção à casa do cego. Sentia-se mal estando sentado no mesmo lugar onde um homem sadio acabara de cegar. Nervoso, o ladrão redobrou a atenção e começou a controlar o carro para que nunca tivesse que parar num sinal vermelho. Estava à beira de um ataque de nervos e o barracão para onde costumava levar os carros roubados ficava longe dali. Então, parou o carro, desceu para tomar um pouco de ar, andou um pouco e, de repente, cegou. Foi encontrado por um policial que o levou para casa, desta vez não por ter roubado, o policial não sabia disto, mas sim por não ser capaz de orientar-se sozinho.

O caso da rapariga dos óculos escuros era simples, apenas uma conjuntivite. Quando saiu do consultório, já à noite, chamou um táxi, passou na farmácia e comprou o colírio que o médico lhe receitara. A bela rapariga dos óculos escuros era uma prostituta e tinha um encontro marcado num hotel aquela noite. Depois do explosivo encontro amoroso, ainda via tudo branco, mas não era por causa do êxtase que sentia, ela também cegara. Nua e aos gritos, a rapariga foi vestida às pressas e colocada para fora do hotel. Um policial extremamente grosseiro levou-a para a casa dos pais num táxi.

Depois de atender todos os pacientes, o médico ligou para um amigo e falou sobre o caso. A princípio suspeitaram de uma agnosia ou amaurose, mesmo sabendo que ambas as doenças tratavam-se de cegueira negra, o oposto do que descrevia o cego. Resolveu marcar uma nova consulta para examinarem juntos, o paciente. Chegando em casa, o médico ficou até altas horas pesquisando sobre o assunto em seus livros. Quando resolveu guardá-los para ir se deitar, o médico cegou. Deitou-se devagar para que a mulher não notasse e passou a noite toda em claro, pensando que, como oftalmologista, deveria avisar as autoridades competentes sobre a "treva branca" altamente contagiosa que estava a se espalhar. Quando, na manhã seguinte, contou à sua mulher que estava cego, ela abraçou-o com força, apesar de ele ter tentado afastá-la por medo do contágio, preparou o café e ajudou-o a telefonar para as autoridades. Diante da grosseria com que fora tratado, resolveu avisar diretamente o diretor clínico de onde trabalhava e este se encarregaria de fazer os outros contatos. A essa altura, já tinham notícia da cegueira do rapazinho estrábico, da rapariga dos óculos escuros e do ladrão. O ministério pediu que ele arrumasse as malas, pois mandariam uma ambulância para buscá-lo, mas não avisaram para onde ele seria levado. Quando a ambulância chegou, a mulher ajudou o marido a acomodar-se, guardou as malas e sentou-se ao seu lado. O motorista da ambulância informou que só poderia levar o médico, mas a mulher disse que também teria que ser levada, pois acabara de cegar.........................  e  o filme  continua...
 












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